quarta-feira, 5 de setembro de 2012

42 anos depois surge documento que confirma morte de Mário Alves


Confirmado: um documento no Arquivo Nacional publicado por O Globo no final de semana (edição deste domingo) confirma que o jornalista e secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) Mário Alves, está morto. Até então ele constava das listas de desaparecidos políticos.

É uma confirmação que só se tem 42 anos depois dele ser preso e morto pelos órgãos de repressão da ditadura militar, apesar de o registro da morte ter sido feito no documento em 1970. "Esse documento é mostra que eles não tinham nenhum pudor de fazer uma lista com os nomes dos mortos. Se até hoje negam a prisão, como é que o dão como morto?", desabafou ao jornal a filha de Mário Alves, Lúcia Caldas Vieira.

Portanto, é uma confirmação do que todos nós já sabíamos. Mas por dever de justiça e gesto humanitário, a notícia poderia ter sido dada desde a época em que foi registrada no documento, para que a família de Mário, mulher e filhos, não passasse quatro décadas na condição de "viúva e órfãos do talvez e do quem sabe", como o ex-deputado Alencar Furtado (MDB-PR) definiu uma vez a situação dos parentes dos desaparecidos políticos.

Militares nunca assumiram que prenderam Mário Alves

Quem confirmou a morte de Mário, ainda em 1970, no documento agora encontrado por O Globo no Arquivo Nacional, foi a própria Aeronáutica. Assim, pela 1ª vez têm-se um documento com referência dessa natureza a Mário. Apesar de quatro testemunhas terem presenciado a tortura de que ele foi vítima no DOI-CODI do Rio, a partir de quando foi levado de casa, dia 16 de janeiro de 1970, daquela data até hoje as Forças Armadas nunca assumiram que ele fora preso.

O documento é uma lista produzida pelo Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA), em 19 de janeiro de 1971, na qual consta a 1ª informação oficial da ditadura militar sobre o jornalista desde o seu desaparecimento. A lista relaciona nomes de militantes, seus codinomes e as organizações na quais atuavam na resistência à ditadura.

Conforme apurou O Globo, nela estão as informações sobre o militante do PCBR desaparecido um ano antes: "na primeira coluna, o codinome pelo qual era conhecido: “Vila”. Na última, seu nome completo: Mário Alves de Souza Vieira; no meio, o campo “situação atual” indica: morto."

Os três ramos das Forças Armadas foram informados do assassinato

A lista serviu como fonte de informação para o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), o Centro de Informações do Exército (CIE) e o Centro de Informações da Marinha (CENIMAR). Mário era baiano e tinha 47 anos quando saiu da casa onde vivia com a mulher, Dilma Borges, em Abolição, subúrbio do Rio.

Preso, Mário foi levado para o DOI-CODI na Rua Barão de Mesquita e torturado durante a noite do dia 16 e a madrugada do dia seguinte. Os presos Raimundo José Barros Teixeira Mendes, José Carlos Brandão Monteiro, Manoel João da Silva e Antônio Carlos de Carvalho ouviram o sofrimento do militante do PCBR ao longo do interrogatório.

Dilma, a viúva, e o advogado Modesto da Silveira desencadearam esforços para localizá-lo, inclusive encaminhando pedidos de habeas corpus para o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, na tentativa de descobrir o paradeiro de Mário. Nenhum órgão da repressão assumiu a prisão. Pior: devido à busca, Dilma também chegou a ser interrogada.

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