terça-feira, 11 de setembro de 2012

Crítica procedente contra o sigilo da Comissão Nacional da Verdade


Em seu artigo “A verdade em alto e bom som”, publicado neste domingo (9.9) no Estadão, o jornalista Bernardo Kucinsky traz uma excelente reflexão sobre os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade ao questionar: “por que (a Comissão) trabalha em sigilo como se ainda estivéssemos na ditadura?”

Uma observação, aliás, que Kucinsky já havia feito durante a primeira reunião da Comissão da Verdade com os familiares de desaparecidos políticos, da qual participou em junho deste ano. À época, ele sugeriu que ao contrário de serem sigilosas, as reuniões do grupo deveriam ser abertas e televisionadas, da mesma forma que são as da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal.

“Se a Comissão da Verdade não foi criada para fazer justiça, se não tem objetivo punitivo, que outro sentido teria senão o pedagógico, o de revelar a nossos filhos e netos as atrocidades cometidas no passado recente para que não se repitam?”, questiona muito acertadamente o jornalista.

Kucinsky lembra que já se passaram quatro meses desde a instalação dos trabalhos da Comissão, mas até agora pouco se sabe sobre eles além das reportagens que vêm saindo nos jornais. “Ocasionalmente se lê nos jornais que a Comissão vai chamar fulano ou sicrano, por terem sido citados em reportagens desses mesmos veículos (...). É a mídia pautando a Comissão da Verdade e não a Comissão da Verdade pautando a mídia”, argumenta.

Sigilo não ajuda em nada

Em seu artigo Kucinsky também cita a observação do ex-procurador geral da República e membro da Comissão, Cláudio Fonteles, para quem "a Comissão da Verdade não levará a nada sem a pressão da sociedade civil". E frisa que há duas verdades aí à nossa espera: uma, a individual devida a cada família; a outra é a “verdade como ferramenta de conscientização e elaboração da nossa história”. 

“O que está em jogo é o domínio da memória histórica”, conclui o jornalista neste artigo que merece toda atenção. 

Kucinsky aponta para a necessidade de que as sessões da Comissão sejam abertas ao “conhecimento amplo, televisionando-as, exibindo as inquirições e documentos encontrados. Aí sim, nos mais escabrosos detalhes, para que não seja uma narrativa abstrata”. Uma abertura – explica - que “não impediria a convocação de determinados protagonistas da repressão para algumas sessões reservadas nem colidiria com essa convocação”. 

O jornalista tem razão. O sigilo da Comissão da Verdade – e mais do que isso, a falta de publicidade de suas ações e atos – não ajuda a mobilizar apoios. Ao contrário, diminui a sua capacidade de obter informações, além de não contribuir em nada para conscientizar a sociedade brasileira sobre o regime militar e seus crimes, muito menos sobre a história do nosso país.

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